O ensino de filosofia na Educação Básica, sobretudo no Ensino Médio, é uma questão historicamente inconstante, sendo a opinião pública sobre a necessidade de uma disciplina de filosofia na matriz curricular brasileira um aspecto de destaque nesse quesito. Essa discussão reside sob o confronto entre a perspectiva tecnicista de educação, voltada para a criação de cidadãos adaptados ao mercado de trabalho, e o discurso pró-filosofia, cujos principais argumentos discorrem, em geral, sobre o potencial crítico e interdisciplinar da área. Atualmente, a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) prevê apenas um conjunto de “saberes e práticas filosóficas”, enquanto a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) não atribui competências específicas a esse campo, fatores que contribuem com um estado incerto e com perspectivas confusas de aplicação. A conjuntura do problema se torna mais crítica na medida em que o papel da filosofia no combate a distorções conceituais se torna cada vez mais necessário na contemporaneidade, mormente no âmbito do ciberespaço. Por conta desses fatores, a presente pesquisa pretende elaborar uma proposta de ensino de Filosofia que possibilite uma maior promoção de criticidade, compreensão e tolerância político-ideológica a diferentes correntes de pensamento e, principalmente, capacidade de elaboração conceitual por parte dos alunos do Ensino Médio do Colégio João Paulo I, visando a uma melhor capacitação crítica da comunidade escolar diante de fenômenos como a pós-verdade, indústria cultural e outras formas de relativismo ou projeções valorativas hodiernas. Sendo assim, os processos metodológicos deste projeto consistem, em um primeiro momento, no estudo de produções bibliográficas acerca dos principais problemas do Ensino de Filosofia no contexto educacional brasileiro, assim como na análise da legislação referente a essa questão como uma forma de entender o processo político que permeia a disciplina. Em seguida, será realizada uma avaliação qualitativa sobre a relação das particularidades da instituição escolar com as possibilidades de aplicação de uma pedagogia simultaneamente estimulante intelectualmente e competente no estreitamento das fronteiras entre teoria e realidade na prática filosófica. Com essa intenção clara, este projeto faz uso de obras de autores responsáveis por estruturar um amplo contexto de análise social e metafísica no campo de atuação da construção conceitual como uma forma de compreender a realidade. Sendo assim, o repertório de pesquisa parte da filosofia da diferença de Gilles Deleuze, perpassa o entendimento de homem-massa de José Ortega y Gasset como maneira de entender a condição política e sociocultural da educação filosófica na contemporaneidade e recai na estrutura de uma oficina conceitual como metodologia de ensino. Até o momento, auspicia-se que a massificação dos fenômenos de distorção conceitual anteriormente citados contribui para a falta de destaque da filosofia no currículo escolar brasileiro. Além disso, percebe-se um problema na perspectiva comum de aplicação dos processos pedagógicos da área, que tendem a considerar a criticidade de pensamento e interdisciplinaridade como um dever unicamente pertencente a uma “filosofia messiânica”, ignorando as suas reais especificidades construtivas e criativas. Dessa forma, o próprio movimento pró-filosofia é capaz de transformá-la em um bem relativo a partir da reorientação do pragmatismo educacional. A atual etapa de aplicação da metodologia consiste na associação entre os métodos internos da instituição selecionada com os princípios centrais da pedagogia construtiva de conceitos a partir da utilização da pesquisa e contraposição de ideias em sala como um instrumento para o aprendizado dos conteúdos do sistema de ensino SAS e de uma visão mais abrangente e diversificada das perspectivas filosóficas do tema discutido. Por fim, deve-se ressaltar que o projeto possui uma previsão de encerramento para dezembro de 2024.