Introdução: Comportamentos são conjuntos “de reações observadas num indivíduo em seu meio social” (Michaelis, 2024). No cotidiano, é possível captá-los com mais facilidade do que os pensamentos. E, em eventos críticos, atitudes antes despercebidas, tornam-se ainda mais evidentes e podem revelar traços desconhecidos da natureza humana. Objetivo: Buscou-se identificar tipos de comportamentos na enchente de maio de 2024, no Rio Grande do Sul, a fim de refletir sobre condutas em catástrofes. Metodologia: Realizou-se esta pesquisa de campo com moradores de Canoas/RS em agosto/2024. Utilizaram-se dois instrumentos de pesquisa: roteiro semi-estruturado para entrevista filmada, com em média 12 perguntas abertas; proposta de produção textual de cartas. O primeiro foi empregado com adultos e idosos, enquanto o segundo, com adolescentes. Em ambas aplicações, anotou-se relatos de comportamentos na enchente. As cartas escritas e as transcrições das falas dos entrevistados foram agrupadas em uma tabela por categorias comportamentais. Resultados: Participaram da pesquisa 36 moradores de Canoas/RS. Desses, 22 são adolescentes do 9º ano do ensino fundamental de uma escola municipal. Dentre os demais, temos 10 adultos e 4 idosos, sendo 3 comerciantes, 3 professores, 4 moradores afetados pela enchente e 4 voluntários durante o evento. Foram analisadas 139 afirmações sobre comportamentos. Sobre os comportamentos negativos, identificou-se que a grande maioria dos atos eram efetuados por civis: 56% condutas criminosas; 39% individualistas; 31% desrespeitosas; 19% insensíveis; 6% divulgadoras de sensacionalismos. Sobre o governo, 25% referiu inércia ou despreparo. De positivo, 80,6% destacaram a “solidariedade”, 22% “união” e 8,3% “valorização do outro”. Das ações solidárias especificadas, 56,8% envolviam atitudes mais diretas. Enquanto isso, as doações compunham 43% das ações indiretas. Entre os adolescentes, 52,8% das falas eram negativas em comparação com 39,1% para adultos/idosos. Conclusão: Os adolescentes focaram mais em comportamentos negativos, talvez por estarem mais expostos a informações negativas nas mídias. Enquanto isso, adultos e idosos pareceram mais resilientes, possivelmente por necessidade de se voltarem para questões mais práticas em meio ao caos ou por vivências anteriores difíceis. A natureza humana em situações extremas revelou-se por vezes solidária e em outras criminosa, individualista e desrespeitosa. Isto porque o estresse, a necessidade de tomar decisões e a insatisfação podem desencadear tanto ações positivas como negativas. Não há garantias de que somente a empatia seja instigada para sobrevivência, pois seres humanos são bastante diferentes, dependendo de suas relações sociais anteriores, questões cognitivas e história de vida. Apesar disso, catástrofes parecem propiciar o desenvolvimento acelerado da empatia/solidariedade. A partir da pesquisa, um documentário foi construído para aprofundamento da análise dos pensamentos e ações durante momentos de crise, pois ao conhecer-se melhor a natureza humana, pode-se favorecer a convivência e as ações de apoio em casos de catástrofes naturais.