Essa pesquisa possui como eixo temático central refletir sobre o processo de inclusão escolar no ensino básico no Brasil, a partir da percepção de estudantes adolescentes em convivência direta com alunos com deficiência (PcDs). Segundo pesquisa da UNESCO, cerca de 60% dos países possuem alguma definição sobre educação inclusiva, contudo em 64% essas orientações não contemplam todos os grupos marginalizados, o que sugere que a maioria dos países ainda não adotou o conceito de inclusão em um sentido amplo e de fato inclusivo. Só no Brasil estima-se que existem 45,6 milhões de PcD´s, cerca de 24% da população. Mobilizadas pela dimensão e relevância social desse problema, e utilizando como estudo de caso as escolas do ensino privado na cidade de São Paulo, estabelecemos o nosso percurso metodológico. Desde a gênese dessa pesquisa ambicionávamos captar as contradições e variáveis desse problema, pelo olhar de alunos adolescentes em convivência com PcD´s. Em outras palavras, no nosso entendimento estaria na tradução e na decodificação das falas e discursos desses alunos, profundamente cifradas e subliminares, a hipótese para uma possível identificação e tradução de uma variável complexa e estrutural problema. Para nós, o processo de exclusão e de recusa em relação a presença dos PcD´s, ou mesmo o estranhamento, a indiferença e a própria invisibilidade com que essas relações são demarcadas, transcendem ao universo circunscrito da inclusão escolar, configurando-se um fenômeno mais estrutural e intrínseco à própria educação: a sala de aula não se configurou em um espaço do contraditório, do debate e por isso tudo, do desenvolvimento de um saber escolar que opera na base da convivência entre diferentes pessoas, aproximados pela mesma faixa etária da série, mas apartados na sua forma de pensar e agir dentro de um mesmo ambiente escolar. Nessa perspectiva, o debate sobre a inclusão escolar pode fazer emergir uma reflexão, ainda maior acerca dos desafios da educação no mundo contemporâneo: de que forma a sala de aula pode deixar de ser um lugar de modelagem e de individuação de pessoas e contribuir para a emancipação social e no desenvolvimento do que Adorno chamou de “consciência verdadeira”? Nas conclusões parciais que obtivemos com os 4 grupos focais, contemplando no total a fala de cerca de 60 adolescentes e que foram profundamente destrinchadas na escrita desse relatório, essa variável do problema se tornou recorrente. Se em um primeiro momento os alunos responderam aos nossos comandos afinados por um senso comum do “politicamente correto”, não raro quando foram estimulados a refletir também sobre as dificuldades e incômodos que essa convivência com os PcD´s provocava, não raro as respostas afluíram para outras formas de violência e segregação igualmente obnubiladas no dia a dia escolar. Dessa forma, acreditamos estar diante de um complexo problema que por tudo isso merece ser mais aprofundado, tanto pela ampliação do número adolescentes e de grupos focais como pela inserção de um outro importante universo de fala: os professores. São essas impressões e reflexões que nos mobilizaram nesses últimos meses e que nos guiaram até aqui que apresentamos nas conclusões finais desse trabalho.