Pobreza menstrual é um conceito complexo, transdisciplinar e multidimensional. Sua definição engloba três aspectos principais que são: (1) acesso a recursos, (2) infraestrutura e (3) conhecimento para que meninas e mulheres tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação. A complexidade e abrangência do assunto é tal que se relaciona a uma lista extensa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da ONU. Avançar em direção à garantia da dignidade menstrual significa atuar em ODS como: igualdade de gênero, educação de qualidade, saneamento básico, erradicação da pobreza, saúde e bem estar, entre outros. Em alguns países ou estados encontramos meninas e mulheres que vivem em condições de pobreza menstrual, mas gostaríamos de saber qual é a nossa realidade. Existe pobreza menstrual entre as meninas das escolas da nossa cidade de São Sebastião do Caí, RS? Nossas hipóteses são de que (1) existe a necessidade sim de distribuição de absorventes nas escolas, (2) ainda existem preconceitos sobre menstruação, (3) o conhecimento das meninas sobre a menstruação ainda é vago, e (4) as condições de higiene dos banheiros das nossas escolas são razoáveis. Pretendemos conhecer qual a situação da pobreza menstrual da nossa cidade, promover o debate sobre pobreza menstrual e contribuir para a promoção de políticas públicas que amenizem a pobreza menstrual. Para fazer a coleta de dados, elaboramos um questionário com diversas perguntas que contemplassem os 3 aspectos que definem pobreza menstrual. O questionário foi entregue às meninas do Ensino Fundamental, Médio e Magistério de escolas públicas municipais e estaduais de São Sebastião do Caí em agosto de 2021. Seguimos os protocolos sanitários referentes a Covid 19. Foram entrevistadas 218 meninas de seis escolas. Praticamente metade das meninas (n=103, 47,2%) afirmou já ter ficado sem absorvente na escola, o que corroborou com nossa primeira hipótese, de que a distribuição de absorventes nas escolas é necessária. Quase 1/3 já faltaram à aula por estarem menstruadas. 45% sente vergonha de carregar o absorvente em público. 2/3 (n=147, 67,4%) se sentem sujas quando estão menstruadas. Esses dados também corroboram com nossa hipótese de que ainda existe tabu sobre o assunto, bem como descrito nos documentos utilizados para embasar a pesquisa, da UNICEF e da ONG Livres para Menstruar. 1/3 (n=73, 33,4%) afirmou não saber ou não ter certeza se sabe ao certo a origem do sangue da menstruação. 88,5%) já sabia sobre menstruação antes de ficar menstruada, porém, mesmo que pequeno o número (11,5%) nos espanta o fato de que algumas meninas não sabiam sobre a menstruação antes dela acontecer. No que diz respeito às questões de infraestrutura e itens de higiene nas escolas, 73,3% afirmaram que tem papel higiênico no banheiro das escolas e também sabonete (73%), mesmo antes da pandemia (53,2%). Esses dados são muito bons, pois 3% das alunas do Brasil, 213 mil meninas, não tem nem banheiros em condições de uso. Ainda como resultado do nosso trabalho, também tivemos a aprovação da Lei Municipal 083/2021 que institui o programa de fornecimento de absorventes higiênicos nas escolas públicas municipais de São Sebastião do Caí.Ficamos imensamente felizes ao ver onde nosso trabalho chegou com a aplicação de tantos questionários, a aprovação da lei e termos vencido como melhor trabalho na feira de ciências municipal. Ainda queremos voltar às escolas e continuar debatendo o tema para atingir mais meninas dentro do nosso objetivo de promover o debate sobre pobreza menstrual. Concluímos que pudemos contribuir para o avanço dos ODS de igualdade de gênero, educação de qualidade, saúde e bem estar.