A falta de acesso a materiais de higiene menstrual é uma grave e preocupante realidade enfrentada por milhões de mulheres ao redor do mundo. Apesar da ONU a reconhecer como uma questão de saúde pública e de direitos humanos, na prática, esse direito é negligenciado. Tal situação é chamada Pobreza Menstrual e causa sérias consequências que se estendem para diversas áreas da vida das mulheres. Além de tal problemática, os impactos causados pela utilização de absorventes higiênicos se estende para a área ambiental. Estima-se que as mulheres descartam mais de 10.000 absorventes durante suas vidas, os quais são compostos por materiais plásticos e aditivos químicos. No Brasil, não existe um tratamento adequado para estes resíduos, os quais acabam sendo enviados para lixões e aterros sanitários, poluindo o ambiente e contribuindo para o colapso do planeta. Além disso, o algodão utilizado é caro e poluente, visto que cada quilograma desse material gasta 10.000 litros de água para ser produzido. Mesmo que atualmente existam alternativas mais sustentáveis, estas são acessíveis a uma pequena parcela da população em razão de exigir um maior custo no momento de compra. Desse modo, observando tais problemas que afetam diretamente o tripé da sustentabilidade, ou seja, o âmbito social, econômico e ambiental, o objetivo da presente pesquisa consistiu na otimização de uma alternativa sustentável e de baixo custo aos atuais absorventes higiênicos utilizando resíduos industriais e o estudo de uma ferramenta para proporcionar o acesso da população a esses produtos. Para tanto, a pesquisa foi dividida em 5 etapas. Na primeira, foram otimizadas a produção dos materiais absorventes, utilizando o pseudocaule da bananeira (PCB) e açaí de juçara (AJ) para substituírem o algodão convencional, através do planejamento fatorial 2² com metodologia de superfície de resposta. Para o PCB, o melhor resultado obteve uma absorção de 1274%, enquanto que o AJ foi de 1304%. Na segunda etapa, foram desenvolvidos biofilmes com os resíduos da indústria nutracêutica para substituir o plástico convencional, sendo os melhores resultados das capacidades absortivas de 43,52% para a camada inferior (com função impermeável) e 87,30% para a camada superior (com função permeável). Os testes de biodegradabilidade dos biofilmes mostraram que, em 16 dias, 49,92% deles foram degradados, demonstrando outro potencial sustentável, tendo em vista que os plásticos convencionais demoram mais de 100 anos para se decompor. Além disso, as melhores propriedades para o biofilme foram obtidas com a média 0,499 mm para Espessura, 1,42 MPa de Tração na Ruptura e 3,78 MPa para o Módulo de Young. Na terceira etapa foi desenvolvido, através do conceito de Upcycling, o protótipo de absorvente, composto por um invólucro feito de sobras de tecidos de costureiras da região para envolver o refil formado pela união das fibras com os biofilmes. O protótipo final foi capaz de absorver 65% mais do que os convencionais, além de utilizar 99% menos água no seu processamento. O custo é de R$0,02, sendo 95% mais econômico do que os comercializados. Na quarta etapa foi realizado o processo de patenteamento do produto e do processo. E finalmente, na quinta etapa, para viabilizar que mulheres em situação de vulnerabilidade pudessem ter acesso a produtos básicos de higiene, foi idealizada uma plataforma web focada no mapeamento de mulheres em situação de vulnerabilidade, de modo a auxiliar no direcionamento das doações. Assim, o projeto contribui para uma sociedade mais circular, pois consiste em uma solução que atende diferentes contextos da sociedade, apresentando relevância ambiental, social, econômica e científica. O mesmo está relacionado com a preservação da água invisível, aquela que o consumidor não enxerga, mas que está atrelada a todo o processo produtivo, como é o caso da plantação do algodão. Além disso, o mesmo contribui com cinco dos 17 ODS criados pela ONU.
Projeto incrível! Bastante pertinente a problemática e traz uma solução factível para a situação atual. Parabéns às pesquisadoras e a orientadora!