No Brasil somente 66,95% da população tem acesso à coleta de esgoto e as minorias são os grupos mais afetados pela falta de saneamento básico. Outro fato de relevância é que cerca de 90% do esgoto de casas construídas em locais irregulares não são coletados. A partir destes dados, essa pesquisa buscou investigar como as questões sanitária e social se relacionam no contexto da cidade de Xangri-Lá, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Devido a grande presença de condomínios horizontais neste município, no ano de 2022 foi estudado o impacto dessas estruturas no sistema sanitário e nos ecossistemas da região (Fase I). Se, por um lado, foi possível concluir que este impacto é mínimo, pois nesses lugares há esgoto tratado e políticas de saneamento, verificou-se que o mesmo não ocorria nos bairros do município, problemática que orienta a Fase II da presente pesquisa: a falta de estrutura e acesso ao saneamento básico, além de uma questão ambiental, também pode ser um considerado um problema social que afeta mais a população carente, causando uma piora em sua qualidade de vida e saúde? O objetivo geral desta pesquisa é analisar a relação entre a estrutura do saneamento básico e os problemas sociais no município de Xangri-Lá, especialmente em áreas mais carentes. O tema justifica-se por ser de grande interesse e importância para a cidade, que conta, de acordo com o último censo, com 16.463 habitantes, dos quais apenas 34,43% tem acesso aos serviços de esgotamento sanitário. Além da importância para o meio ambiente e a saúde, o saneamento básico contribui com a educação e a economia, impactando na queda da mortalidade infantil, redução da incidência de doenças e, como consequência, diminuição dos custos com saúde. Os grupos vulneráveis acabam por ter mais gastos com saúde, afetando inclusive o desempenho escolar, afinal, a frequência na escola diminui em casos de doenças. Na metodologia, iniciou-se com a revisão dos resultados da Fase I do projeto. Em seguida, foi realizada uma pesquisa bibliográfica relativa ao tema do saneamento, em especial em sua conexão com questões sociais. Foram utilizados materiais da imprensa local e regional, informativos sobre estatísticas, textos da Agência Nacional de Águas, análises da proposta do Marco Legal do Saneamento, publicações acadêmicas, dentre outros. Na sequência, foram analisados documentos e legislações, com destaque para o Plano Diretor do município. Foi aplicado, então, um questionário com a população do bairro Figueirinha, por se tratar de uma localidade que atende às características investigadas na pesquisa, traçando um perfil tanto socioeconômico quanto a respeito das questões sanitárias. Outro ponto foi a entrevista com técnicos e agentes públicos do município para levantar dados técnicos e informações específicas da cidade, mapeando a presença de água e esgoto tratado nos bairros. Finalmente, foram analisadas as referências estudadas e os dados coletados, a fim de compreender o contexto social e a estrutura de saneamento, assim como as relações entre as duas esferas. Observou-se, desse modo, os seguintes resultados parciais: inicialmente, a área correspondente aos condomínios conta água e esgoto tratados, mas nossa pesquisa mostra que os bairros em sua grande parte não contam com esses serviços. Mais ainda, quanto mais carente a região, menor o índice de casas com este tipo de acesso. Dessa forma, os dados investigados apontam para uma correlação entre a questão do saneamento no município de Xangri-Lá e um impacto na vida, no trabalho e na saúde da população, sendo este impacto de cunho social. A pesquisa, está em coerência com os objetivos da Agenda ONU, como Saúde e Bem-Estar, Água Potável e Saneamento, e Redução das Desigualdades, além de ter relação com debates atuais sobre questões sanitárias, sociais, ambientais, sobre recursos hídricos, direitos humanos, dentre outros temas de relevância.
