Ao longo da história da educação brasileira e da formação docente, os protagonistas do ensino, os professores, passaram por diversos momentos de desvalorização de seu trabalho, que ainda pode ser observada. No Brasil atual, existe a preocupação acerca de um possível “apagão de docentes”, no qual o número de professores disponíveis é menor do que a demanda necessária para a educação brasileira. O fenômeno é caracterizado pela diminuição do interesse na profissão do magistério, percebida a partir da diminuição no número de ingressantes e concluintes nas graduações de licenciatura e pela desistência de profissionais atuantes no mercado de trabalho, o que, em um futuro próximo, poderá acarretar na carência de educadores, comprometendo o ensino brasileiro e o desenvolvimento do país como um todo. Entre os principais motivos citados para o desinteresse, está a desvalorização e a desprofissionalização de docentes. O ano de 2017 foi caracterizado por dar o início a uma série de reformas legislativas que levantaram questionamentos na população por flexibilizar as relações de trabalho. Nesse viés, estariam as recentes reformas, de alguma maneira, contribuindo para a aproximação do mencionado déficit de professores? O objetivo do presente trabalho é investigar a relação entre esses fatores, com a finalidade de descobrir se as alterações legais têm responsabilidade nos riscos da crise docente. A pesquisa em foco possui um caráter aplicado, adotando uma abordagem tanto qualitativa quanto quantitativa, com a análise de dados secundários. Em termos de objetivos, é exploratória, e no que diz respeito aos métodos, é teórico-bibliográfica. O conteúdo analisado é extraído exclusivamente de monografias, Trabalhos de Conclusão de Curso, teses, artigos, notícias, livros e da própria legislação brasileira. Nos resultados obtidos foi evidenciado que as alterações legais de 2017 contribuíram com a flexibilização os contratos e das relações de trabalho. A Reforma Trabalhista possibilitou tentativas de renovação das Convenções Coletivas de Trabalho dos professores, que resultaria na redução de seus direitos, além de acentuar as demissões sem justa causa, que aumentaram 11,2% em 2017. O Decreto 9.057/2017 ampliou os cursos de graduação a distância (EaD), modalidade na qual os condutores não são chamados de professores, e sim, tutores, cuja regulamentação trabalhista é inexistente, expondo esses profissionais ao risco de perderem seus direitos e de exploração, agravado pelos fenômenos do “trabalho morto” e “ensalamento”. O EaD também impactou negativamente a formação de novos professores, já que, atualmente, a modalidade domina o cenário de graduações de licenciatura, e a qualidade educacional à distância é inferior a de cursos realizados presencialmente. A Base Nacional Comum Curricular, homologada em 2017, foi construída sem participação efetiva da comunidade escolar, e tornou-se excludente e conteudista, diminuindo a autonomia dos professores e desprofissionalizando os docentes. Por fim, nota-se que a reforma do “Novo Ensino Médio” aumentou a sobrecarga dos docentes, que precisaram atualizar-se para atender às exigências da reforma e buscar novos empregos devido a redução da carga horária de diversas matérias em função dos itinerários formativos. Concluiu-se que as reformas na legislação precarizaram o trabalho docente, culminando em sua desvalorização social, transformando a lógica educacional na lógica do mercado neoliberal, alterando o sentido de ensinar e a finalidade das escolas, desprofissionalizando o magistério, o que leva à consequente diminuição da atratividade da carreira. Palavras-chave: apagão de docentes, políticas neoliberais, desvalorização dos professores, reformas legislativas, privatização da educação.