Poluentes emergentes são novos produtos químicos, inorgânicos ou orgânicos, que não possuem caráter regulatório e cujo impacto no meio ambiente e na saúde humana ainda é desconhecido. Entre os poluentes emergentes atuais mais comuns, pode-se citar os antibióticos, outras classes de fármacos, agrotóxicos e até cosméticos. Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul passou pela pior enchente já registrada em sua história. Esse cenário, além de trágico, elevou o risco de exposição da população a doenças infecciosas, como a leptospirose, fazendo com que a secretaria de saúde estadual passasse a recomendar como profilaxia o uso dos antibióticos doxiciclina e azitromicina. O objetivo desse projeto foi, portanto, quantificar esses antibióticos, bem como sulfametoxazol e sulfadiazina em águas superficiais gaúchas, além de avaliar os possíveis impactos desses no fitoplâncton, uma vez que estes organismos são importantes produtores primários, se encontram na base da cadeia trófica aquática e são bioindicadores da qualidade da águas, e na saúde humana, além de correlacionar com as condições ambientais (pH, oxigênio dissolvido, clorofila a, condutividade e fósforo reativo dissolvido), e de potabilidade (coliformes totais e termotolerantes). Os pontos de coleta buscaram representar diferentes ambientes aquáticos, contemplando três locais diferentes: O lago Guaíba, orla de Porto Alegre, onde se caracterizou três pontos (P1 – Dilúvio, onde arroio Dilúvio deságua no Guaíba; P2 – Rua Evaristo, onde se tem um ponto de diluição distante aproximadamente 150 m das margens; e o P3 – Ipanema, onde o arroio Capivara deságua nas águas do Guaíba), a Lagoa Fortaleza, na cidade de Cidreira, um ponto sem entrada de esgoto, e o estuário de Tramandaí/Imbé, no litoral norte gaúcho. A 1° campanha foi realizada no início de julho (01/07 e 03/07), início do inverno, e a 2° campanha foi realizada em setembro (04/09 e 16/09), próximo do início da primavera. Os resultados obtidos quanto a potabilidade das águas foram alarmantes, encontrando-se valores muito altos para coliformes totais no Dilúvio (P1) e em Ipanema (P3), respectivamente, 772350 NMP e 446700 NMP, na 1° coleta, e 1011200 NMP e 280950 NMP na 2° coleta, assim como os resultados do fósforo, que também foram muito maiores nestes pontos: 11,59 μg/L (P1) e 12,07 μg/L (P3), na 1°campanha, e 14,24 μg/L (P1) e 8,60 μg/L (P3), na 2° campanha. A clorofila a, um parâmetro ligado a biomassa dos seres fotossintetizantes, também foi afetada pelas condições da água nestes locais na 1° campanha, visto que em Ipanema sua concentração ficou abaixo do limite de detecção do método e no Dilúvio correspondeu a 0,33 μg/L. Os antibióticos foram quantificados pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-RS), e seguiram a mesma tendência dos parâmetros anteriores, onde os locais em que se obteve maiores concentrações foram no Dilúvio e em Ipanema, respectivamente: 10,96 ng/L e 6,99 ng/L de doxiciclina e 16,10 ng/L e 12,42 ng/L de azitromicina. Esses resultados evidenciam impacto de cunho antrópico no lago Guaíba, mostrando-se ainda mais preocupante quando relacionadas com às concentrações encontradas na Lagoa Fortaleza: 7,23 ng/L de doxiciclina e 0,77 ng/L de azitromicina, visto que é um local livre de contaminação por esgotos domésticos. Realizou-se ainda uma simulação com a cianobactéria Anabaena sp., disponibilizada pelo Banco de Microalgas Adair & Kutner do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e no fitoplâncton coletado na Lagoa Fortaleza, a fim de observar seu comportamento frente a exposição às maiores concentrações encontradas em bibliografias de doxiciclina (4,2μg/L) e azitromicina (0,569 μg/L), bem como a mistura de ambas as concentrações. Os resultados obtidos sugerem efeito negativo da exposição da cianobactéria Anabaena sp. (gram-negativa), frente a concentração de 4,2μg/L de doxiciclina, no entanto para as demais exposições há necessidade da repetição, uma vez que não houve efeito significativo.