Uma das perguntas que sempre surgem na aula de literatura é por que temos tão poucas escritoras consagradas ao longo da história literária. Uma das respostas possíveis é que as mulheres sempre escreveram, mas nem sempre suas obras foram publicadas em seu nome. Atualmente, existe uma nova vertente da poesia contemporânea que são as batalhas de slams, em que cada poeta pode se inscrever livremente e declamar seus versos autorais, avaliados por um júri. Essa modalidade é bastante conhecida nas redes sociais pelos jovens, tanto que a iniciativa desta pesquisa parte de um grupo de meninas negras dos cursos do Ensino Médio Integrado do IFSul Campus Camaquã, que buscam pesquisar e reunir poemas e biografias de mulheres suburbanas do século XXI, por perceberem que essa voz nem sempre é notada. Assim, as participantes do grupo de pesquisa, partindo de um termo de consentimento livre e esclarecido, criou um blog que apresenta dados obtidos por meio de entrevistas realizadas virtualmente com as slammers, reunindo links para suas páginas pessoais, vídeos, organizando sua biografia e produção poética em um único espaço. Este trabalho catalográfico, em um primeiro momento, reúne esse material tão vasto e disperso, além de pouco estudado pelo domínio acadêmico. Concluída esta primeira fase desenvolvida ao longo da pandemia, em 2022, o grupo começou a ministrar oficinas para escolas públicas de Camaquã que demonstraram interesse em conhecer o slam e suas artistas. Assim, diversos temas de complexidade social puderam ser debatidos, mas sempre partindo da necessidade da reflexão sobre essas vozes que tantas vezes foram silenciadas e desautorizadas. Uma das questões mais debatidas no âmbito da literatura é a formação de seu cânone. Sachinski (2012) afirma que tal parâmetro é o responsável por promover as obras literárias tidas como mais valiosas, de acordo com alguns parâmetros pré-estabelecidos. Assim, apenas alguns títulos entram nesta restrita lista, enquanto muitas outras se distanciam de tal classificação. Esse índice privilegia há séculos os escritores homens, brancos, pertencentes à classe mais abastada. A sociedade contemporânea mostra, cada vez mais, a partir da consciência de gênero, de classe e de raça, a necessidade de aumentar a visibilidade das mulheres da periferia que buscam e falam sobre os seus direitos. “É preciso ressignificar a identidade dessa mulher negra, colocando-a enquanto produtora de conhecimento e um ser político, pois até o momento ela é vista a partir de um racismo histórico”. (FREITAS, 2019, p.124). Para divulgar os resultados de nossa pesquisa, além do site, temos ainda o Instagram do projeto. Além disso, assim que o blog ficou pronto iniciamos a divulgação dos resultados junto à nossa escola, em outras escolas da cidade de Camaquã/RS, bem como em feiras científicas. A principal forma de análise dos resultados tem ocorrido após os encontros de formação, em que disponibilizamos uma caixinha de avaliação, e diversos participantes comentam que desconheciam a modalidade slam, e que a partir da conversa realizada buscariam mais informações sobre as artistas. Dessa forma, é possível perceber que os objetivos de divulgação dessa modalidade de poesia falada foram atingidos, bem como dar importância e voz a mulheres negras contemporâneas, refletindo sobre as suas vivências e discussões.