O número de óbitos por dengue em 2022 cresceu 301% em relação ao ano anterior, segundo dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Assim, considera-se que a dengue é uma doença negligenciada veiculada ao homem através do mosquito hematófago Aedes aegypti. Os atuais inseticidas e larvicidas químicos sintéticos disponíveis para controle e combate aos mosquitos são limitados do ponto de vista ambiental, uma vez que promovem a contaminação e contribuem para o desenvolvimento da resistência. Nesse contexto, surge a necessidade de apresentar uma solução para o controle do A. aegypti. Sabendo-se que extratos vegetais podem ser substitutos naturais aos inseticidas convencionais, tendo em vista a ampla quantidade de compostos bioativos, questiona-se: é possível desenvolver uma fita biotecnológica a partir de celulose bacteriana impregnada com extrato de folhas de pião-roxo (Jatropha gossypiifolia) para combate a proliferação de ovos, larvas e pupas do A. aegypti? O objetivo deste projeto foi desenvolver uma tecnologia adesiva de baixo custo para liberação contralada de extrato de folhas de pião-roxo para combater o mosquito da dengue. Foram coletadas amostras de fruto, folha e caule de Pinhão-roxo em Cascavel-CE e obtidos extratos hidroalcoólicos para testes prévios visando otimizar as condições de mortalidade frente às larvas de Aedes aegypti. Os extratos com maior potencial larvicida foram submetidos a análises de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC/CLAE) acoplada à espectrometria de massas, para mapeamento do perfil bioquímico e de metabólitos secundários nos extratos. Com o extrato que apresentou maior diversidade de metabólitos com função inseticida/larvicida, foi adotado um planejamento fatorial 2² (DCCR) com Metodologia de Superfície de Resposta (MSR) para estudar a influência das variáveis Volume de Extrato (mL) e Tempo de contato (min) na variável resposta Mortalidade (%) de ovos, larvas e pupas de A. aegypti seguindo as metodologias da Organização Mundial de Saúde (OMS). As fitas biotecnológicas de celulose bacteriana (CB) foram produzidas em cultivo estático por 10 dias em meio contendo Farinha da Casca de Abóbora (FCA) e Sacarose, como fonte de carboidratos, e tendo como cultura starter o resíduo de fermentação de bebida não-alcóolica. Foi adotada um DCCR para otimização da produção das fitas em função das fontes de sacarídeos testadas. Após produção e caracterização fisíco-química e mecânica (umidade, solubilidade, propriedades mecânicas, espessura, permeabilidade ao vapor’dágua), as fitas foram tratadas com resina de cajueiro dissolvida em água para compor a matriz adesiva e impregnadas com o extrato de folha do pião-roxo. Testaram-se as fitas na mortalidade de ovos, larvas e pupas e determinou-se as melhores formulações, bem como estudou-se o efeito residual e a fitotoxicidade e calcularam-se os custos de obtenção e comercialização das fitas utilizando métodos de custeio por absorção e MarkUp. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo Teste de Tukey (p<0,05), bem como análise Probit para determinação da concentração letal (LC99). O extrato da folha apresentou perfil fitoquímico diverso (flavonóides, Saponinas, Alcalóides, Taninos e Esteróides.) sendo mapeados os compostos: vicenina (isômeros 1 e 3); orientin, isovitexin, roifolina, apigen-7-O-neohesperidoside e luteonina. Esses compostos fenólicos presentes no extrato e nas fitas impregnadas apresentaram atividade ovicida, pupicida e larvicida frente às larvas do estágio L4 do mosquito A. aegypti, sendo uma alternativa ecológica e de baixo custo (R$0,18 a unidade) para combate à proliferação do mosquito. Evidenciou-se efeito residual longo, reduzindo a necessidade de aumento do número de aplicações, bem como praticidade para uso do produto segundo os pesquisados. Ademais, o produto não apresentou fitotoxicidade. Palavras-chave: Biotecnologia; Inseticidas; Contaminação; Doenças.