A água é um recurso vital para a vida e, como tal, sua qualidade é de extrema importância para a saúde pública e a sustentabilidade ambiental. Para isso, são determinados parâmetros que representam a qualidade da água, caracterizando suas propriedades físicas e químicas. A cafeína, um poluente emergente, é amplamente utilizada no Brasil e é oriunda do consumo humano dessa substância. Os tratamentos convencionais de esgoto não a removem completamente, fazendo com que seja liberada diretamente no meio ambiente e interagindo com o fitoplâncton, que representa a base da cadeia alimentar dos seres aquáticos. A maior enchente ocorrida no outono deste ano no estado do RS trouxe danos avassaladores, entre eles, diversas doenças transmitidas pela água. Visando isso, o presente projeto analisou amostras de água com diferentes qualidades do Rio Grande do Sul, utilizando como indicadores: cafeína, Adenovírus (HAdV41 e HAdV5) e coliformes, correlacionando-os com outros parâmetros físico-químicos de água; além disso, foram mensurados os efeitos da cafeína sob a comunidade fitoplanctônica. Para tal, foram coletadas amostras em diferentes pontos de águas gaúchas no início do inverno (C1) e primavera (C2), sendo dois pontos de coleta no litoral norte: Lagoa Fortaleza e Estuário de Tramandaí/Imbé; e três em Porto Alegre: Dilúvio (próximo a uma ETA, ponto de captação de água para tratamento), Rua Evaristo e Ipanema (desembocadura do arroio capivara com o Lago Guaíba). Foram realizadas análises físico-químicas (pH, condutividade, fósforo dissolvido, clorofila e oxigênio dissolvido) além de métodos específicos para a quantificação de cafeína (HPLC), HAdV (qPCR) e coliformes (Colilert). Os resultados dos parâmetros físico-químicos trouxeram valores que demonstram poluição e baixas condições de manutenção da cadeia alimentar, já que a presença de fitoplâncton está reduzida (baixas concentrações de clorofila e oxigênio dissolvido). Na C1 a cafeína foi detectada em todos os pontos amostrados, variando de 732,79 ng/L à 38.557,07 ng/L, sendo Dilúvio o local com maior concentração e Lagoa Fortaleza de menor concentração. As amostras da C2 foram enviadas para o LFDA para quantificação da cafeína e os resultados serão disponibilizados até o final de outubro. Os resultados de oxigênio dissolvido correlacionam-se de forma negativa com a cafeína, onde é verificado que as concentrações são inversamente proporcionais. Quanto aos Coliformes termotolerantes, em ambas as coletas foram encontrados valores altos, sendo no dilúvio a maior concentração (C1 = 74800 MPN; C2 = 131912,5 MPN), excedendo o limite máximo estabelecido pelo CONAMA para águas doces de classe 3 (4000 MPN). Cafeína e Coliformes termotolerantes também se correlacionam, porém, positivamente, de modo que ambos apresentaram altas concentrações (Dilúvio e Ipanema), o que pode indicar alta contaminação antrópica, oriunda de efluente doméstico. Tal fato, é ratificado pela presença de HAdV41 nos mesmos dois pontos tanto da C1 quanto na C2: Ipanema e Dilúvio. A simulação com a cafeína utilizando a cianobactéria Anabaena spiroides está em andamento (extração e leitura espectrofotométrica). Analisando os resultados obtidos, podemos levantar a conclusão que a cafeína se mostra um marcador confiável para mensurar a contaminação antrópica em águas, visto que sua presença está relacionada com outras fontes poluidoras, além de outros parâmetros que se mostraram auxiliares na predição da fonte de contaminação e na análise de avaliação de qualidade de água. O estudo destaca a necessidade urgente de monitoramento e intervenções para mitigar os efeitos da poluição por cafeína e outros bioindicadores no ambiente aquático do Rio Grande do Sul. Palavras-Chave: cafeína; poluição; fitoplâncton.