A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é um tipo de câncer que afeta principalmente os adultos. Um indivíduo acometido pela LMC pode ter poucos ou nenhum sintoma durante anos, até entrar em uma fase de grande proliferação das células cancerosas. Estima-se que mundialmente hajam 9,6 milhões de óbitos por câncer, dentre as pessoas que foram diagnosticadas, 2,3% dos casos do sexo feminino são de leucemias e 2,6% do sexo masculino. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Câncer (INCA) indicam que para o próximo triênio (2020-2022) são estimados 5.920 casos novos de LMC em homens no Brasil e 4.490 em mulheres. Nos Estados Unidos a situação é similar, quase 5 mil novos casos em homens e cerca de 3.500 novos casos em mulheres. As estimativas sempre sugerem que haverá mais casos em homens do que em mulheres, porém não há informação na literatura científica que explique essa tendência. Tendo em vista essas informações, a questão de pesquisa deste projeto é investigar o motivo da maior incidência de LMC em homens em relação às mulheres. A hipótese adotada propõe que há relação direta entre a maior incidência de LMC em homens às profissões ocupadas por eles na sociedade. Para testar essa hipótese, na fase I deste projeto, foram coletados dados epidemiológicos de 158 prontuários de pacientes portadores deste tipo de leucemia, sendo de 74 homens e 74 de mulheres. A análise dos resultados permitiu estabelecer relações entre as profissões de risco para a LMC. Baseando-se nas descrições das profissões disponíveis na Classificação Brasileira de Ocupações em conjunto com a Associação de Medicina do Trabalho foi possível identificar os riscos e as intensidades específicas de cada uma das profissões em ambiente de trabalho, assim sendo possível formar as diferentes classificações para as diferentes profissões, a partir de dois riscos mais incidentes (exposição à radiação e produtos químicos). Os dados coletados indicam que as profissões que oferecem maior exposição para o trabalhador que possa aumentar o risco para a LMC são, em geral, 54% mais ocupadas pelos sexo masculino, corroborando a hipótese. Além disso, ao analisar a recorrência de cada categoria profissional entre os indivíduos com LMC, foi observado que serviços de limpeza no geral (correspondente a 30% de todas as profissões estudadas), frentistas e ocupações da área industrial, podem ser indicadas como profissões de risco para a doença. Ao final, observou-se que em todas as profissões consideradas de risco para a LMC, o contato com produtos químicos foi muito recorrente, em especial o benzeno, o qual contato está presente em 48% das profissões indicadas nos prontuários, assim podendo inferir que este de fato seja um novo fator para a LMC, corroborando com os resultados da pesquisa de Mehlman (2006). Os resultados dessa pesquisa sugerem que determinadas profissões oferecem risco de desenvolvimento de LMC ao trabalhador, portanto a formulação de políticas públicas se faz necessária, a fim de melhorar o uso de equipamentos de proteção, reduzir tempo de risco exposto, realizar ajustes salariais, assim realizando uma melhor prevenção para a LMC, de acordo com as profissões de risco identificadas. Por fim, conclui-se que uma das justificativas para a maior incidência deste câncer para o sexo masculino, seja justificado pelas profissões mais perigosas por estes ocupadas, assim levando a um maior índice de desenvolvimento para a LMC. Entretanto, mais informações acerca do histórico de trabalho de indivíduos com LMC são necessários para melhor entendimento da relação entre profissão de risco e LMC. Nesse sentido, as perspectivas futuras desta pesquisa, fase II, consiste na realização de uma entrevista semi-estruturada para os pacientes ativos do laboratório parceiro, com o objetivo de aprofundar na trajetória laboral dos mesmos. Palavras-chave: leucemia mielóide crônica, produtos químicos, ocupação profissional, benzeno, profissão de risco.