O tema da presente pesquisa é a representação do feminino em dois filmes vinculados ao Cinema Novo, movimento que surgiu no final da década de 1950, no Brasil. As obras do Cinema Novo se caracterizavam como anti-industriais, modernas e autênticas. Com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, os cineastas do Cinema Novo revolucionaram o modo de pensar e fazer cinema, renovando linguagens e narrativas. Os diretores relacionados ao cinema novo voltavam seu olhar para o Brasil, em especial para situações complexas da sociedade. Um de seus principais fundadores – Glauber Rocha – é visto tanto como artista quanto como pensador e teórico anti-imperialista. O estudo se justifica à medida que se reconhece a importância das obras de Glauber para a compreensão da identidade de um povo que vivia na miséria em tempos de efervescência política. Além disso, a pesquisa dialoga com diferentes áreas do conhecimento, como história, sociologia e cinema. Tendo em vista que o modo como o feminino é retratado nas artes está sendo cada vez mais estudado, a pesquisa tem por objetivo compreender de que forma as mulheres são representadas nos filmes de Glauber Rocha, enfatizando duas personagens femininas dos filmes “Deus e Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Terra em Transe” (1967): Rosa e Sara. Para atingir o objetivo proposto, em primeiro lugar, foram assistidos e analisadas as obras cinematográficas. Em seguida, fichou-se as cenas em que as personagens selecionadas aparecem, avaliando o contexto em que as mulheres estavam inseridas e suas diferentes lutas. Foi realizada também uma ampla revisão bibliográfica sobre cinema novo, gênero, identidade nacional e estudou-se o contexto político, social e econômico da época em que as obras foram criadas. Como resultados foi possível evidenciar que tanto em Deus e o Diabo na Terra do Sol como no filme Terra em Transe as mulheres que subvertem o padrão de concepções que relacionam a fragilidade ao feminino. As mulheres que pertencem a essas obras passam longe de serem corpos objetificados: são elas que levam racionalidade aos sonhadores companheiros. Terra em Transe nos apresenta um feminino que vê na luta política uma saída para sua própria libertação e de outras pessoas. Sara marca o filme com uma fala sobre sacrifício das próprias ambições em nome de algo maior, demonstrando coragem e independência. Entretanto, há a referência de um auto-sacrifício: a personagem abdica de ter filhos ou casar para se dedicar à construção de uma nação mais justa ao lado do presidente eleito. Já Rosa, de Deus e o Diabo na Terra do Sol, segue seu companheiro pelo sertão, buscando formas de amar longe da fome. Durante todo o filme ela tenta abrir os olhos de Manuel, além de confrontar certas decisões deste, sempre marcadas pela esperança sonhadora em uma salvação fictícia, na expectativa de que o sertão virasse mar. Ao fim do longa, a personagem feminina é marcada como uma figura maternal. Desta forma, observa-se uma identidade feminina complexa. Concluindo, as mulheres nos filmes analisados as quais possuem maior destaque na trama caracterizam-se pela lealdade aos protagonistas masculinos com os quais se envolvem amorosamente, sendo representadas como o elemento de racionalidade e pragmatismo nas obras. Elas enfrentam uma série de dificuldades existentes naquela época e que se perpetuam até os dias de hoje, como a desigualdade social e o autoritarismo. Sendo assim, os filmes permitem observar as transformações e as permanências dos olhares e discursos sobre as mulheres e seus papéis sociais. Palavras chave: Cinema Novo; Glauber Rocha; História e Gênero