Apenas 28,8% dos pesquisadores do mundo eram mulheres em 2015, de acordo com o Escritório de Estatísticas da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UIS/Unesco). Este dado adquire ainda mais concretude com a análise da relação entre meninas e Ciências no contexto acadêmico, onde evidenciava-se como de progressivo distanciamento. À vista disso, o objetivo compilado neste trabalho é o de identificar e compreender a origem do fenômeno vigente, rastreando o momento em que ele incide. Para tanto, buscamos inicialmente perceber os fatores determinantes para o processo de desenvolvimento do interesse por se fazer Ciência. A procura se deu pelo estudo de biografias de grandes autoras da área científica, nas quais destacamos semelhanças que nos apontavam o contato precoce com o meio em questão como principal aspecto, e sendo este oriundo sobretudo da influência familiar. Embora tal busca tenha evidenciado o propulsor para incentivar meninas, o artigo de Lin Bian sobre estereótipos de gênero de inteligência introduziu a existência do fenômeno de afastamento progressivo de meninas da Ciência como resultado dos mesmos estereótipos com os quais trabalhou. Constatamos, assim, que a origem procurada jazia em pré concepções que associam o brilhantismo intelectual a homens, afugentando mulheres que não se inserem nesse requisito: este é o dito Dream Gap. O fenômeno teve seu início identificado na faixa etária de 6 anos de idade nos Estados Unidos, pela pesquisadora. Entendemos ele como possivelmente revestido de questões locais e, contudo, mostrou-se necessária a aplicação de um rastreamento do fenômeno no Brasil, na cidade de São Paulo, baseado exclusivamente na metodologia aplicada nos experimentos realizados nos Estados Unidos e no conceito de território do geógrafo Milton Santos. Este, que compreende o espaço como processo e produto de relações sociais, embasou a delimitação da área a ser trabalhada. Optamos pelo distrito da Vila Andrade, que corresponde à proposta de Santos à medida com que é composto por sub-regiões de realidades econômicas divergentes como Morumbi e a comunidade de Paraisópolis. Os índices do distrito contemplam ambas as esferas,embora expressem dados contraditórios ao considerarmos especificamente cada uma delas. Ainda assim, as dinâmicas sociais que ali ocorrem transcendem as fronteiras dos dois cenários, dialogando com o que propõe o geógrafo. De todo modo, utilizadas perguntas disparadoras e exposição dos grupos testados a simulações, foi possível discernir as peculiaridades do Dream Gap brasileiro e realizar um cotejamento dos padrões estadunidense e brasileiro, além da interpretação de seu comportamento, expresso ao longo do desenvolvimento de meninas ( com idades respectivas aos distintos grupos estudados). Palavras- chave: Estereótipos de gênero, Dream Gap, afastamento progressivo, STEM, território, rastreamento, valorização do fazer científico feminino.